O AMOR DE CADA UM
Entender o inexplicável, talvez seja esse o desafio que tantos amantes têm que enfrentar ao fim de uma história de amor. Teria sido realmente amor, sentimento que sobrevive de demoras, paciência, pausa, todo aquele arroubo, o encontro de corpos, juras, sorrisos, acenos, dizeres, ou teria sido apenas paixão, com seus rituais de pressa, sofreguidão, impaciência, avidez que não resistiu à passagem do tempo, à travessia e perdeu-se no caminho?
Quando somos jovens, questões dessa ordem passam ao largo, não nos questionamos sobre o quanto são trabalhosas as relações de amor, o convívio diário, as diferenças que incomodam. Não atentamos que no dia-a-dia pequenos gestos, pequenos detalhes podem mudar a ordem das coisas, fazer a diferença. Desconhecemos que o cotidiano tem sua ritualidade, suas díspares e distintas faces, que além da face comum, normal: o andar, o dormir, o acordar e assim por diante, tem a face que transpõe os limites dessa normalidade, suavizando, adocicando todas essas etapas, inserindo um viés poético a essas frugais atividades, conferindo a elas novos significados. Sem esse entrelaçamento, sem esse enlevo unindo as duas pontas, as relações tendem a azedar, a se tornarem amargas, acinzentadas, até findarem.
Quantas histórias de amor se perdem na travessia...
Seriam nossas escolhas as grandes vilães? Não escolhemos então o caminho da felicidade para nossa vida?
Assim, no embalo de tantas indagações, a nossa memória, fonte inesgotável de reminiscências, continua sua busca, sua andança, consumindo-nos sem apontar um norte para entendermos o que para nós não tem explicação plausível.
A ausência, o distanciamento e os silêncios eloquentes talvez sejam a raiz de tantos desencontros. O comedimento das nossas expectativas com as relações é uma necessidade de sobrevivência; comumente esperamos uniões maravilhosas, absolutas, perfeitas, esperamos possuir o parceiro em sua integralidade e nesse esperar e ansiar constante e quimérico talvez tenhamos perdido a noção do respeito à liberdade e às peculiaridades de cada um. Talvez não tenhamos atentado que seremos sempre dois, ser um só é utopia, ilusão, essa idealização ingênua é tão segura e estável quanto uma folha ao vento.
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