NINGUÉM É FELIZ SOZINHO!


Amizade verdadeira tem sido produto escasso nos dias que correm. Formada, a princípio, pela empatia mútua entre pessoas que se esbarram pela vida, assim como em outros tipos de relacionamentos, a amizade demanda partilha, conhecimento, trocas, muito respeito, amor e admiração (UFA!). Mas, para que tal união se estabeleça a partir desse encontro primeiro, há que se percorrer um longo e árduo caminho.
A reciprocidade de afetos, o abraço solidário, a cumplicidade diante da dor, a alegria compartilhada ante as conquistas do outro são sentimentos cada vez menos cultivados e experimentados. A quê creditar tão significativa mudança nos relacionamentos interpressoais? Sabemos que uma barreira invisível e perversa, a incomunicabilidade, é capaz de gerar sensações dos mais diversos matizes: medo de intromissões, invasão de privacidade, desconfianças. Poderiam ser estas as causas?
A amizade não coexiste com inseguranças, medos, isolamento e silêncio, isso simplesmente porque amigos não se descobrem com um toque de midas ou uma varinha de condão. Há uma longa história por trás das relações, seguindo a ritualidade da vida: as pessoas se encontram, descobrem-se, amadurecem juntas. Mas, para que esse encontro e esse descobrimento sejam sempre comemorados não significa que devamos ter as mesmas ideias, os mesmos compromissos, enxergar as coisas da mesma forma. Não! Devemos estar sempre abertos a outras verdades, dar oportunidade ao outro de divergir do que acreditamos, ouvir mais do que falar (o que é muito difícil). Nas verdades radicais inexistem os confrontos, os contrários, o outro lado da moeda, a outra versão da história, a riqueza do múltiplo; por conseguinte, não floresce a amizade.
Cumpridas as primeiras etapas desse rito, continuamos amadurecendo juntos, mesmo diante das mudanças naturais no curso da vida: faculdade, casamento, filhos, profissão, doenças, cuidados com os que nos trouxeram ao mundo... (não necessariamente nessa ordem). Se ultrapassada essa etapa (esses descaminhos) e o encontro de almas persistir, não conseguindo o famigerado tempo desfazer o elo, podemos, enfim, dizer: temos amigos verdadeiros! Amigos como aqueles de quem nos fala o poeta: "para se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração". Indo mais longe no tempo, recorremos a Aristóteles que pregou que "a amizade verdadeira é a excelência moral perfeita". Creditamos, com essas palavras, à amizade as razões para afirmarmos que ninguém é feliz no silêncio, no isolamento, no singular. Ninguém é feliz sozinho!

Comentários

  1. Nos dias de hoje, em que o tempo se tornou tão escasso, tornou-se ainda mais difícil termos amigos verdadeiros como os descritos nesse texto.

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  2. "Se ultrapassada essa etapa (esses descaminhos) e o encontro de almas persistir, não conseguindo o famigerado tempo desfazer o elo, podemos, enfim, dizer: temos amigos verdadeiros! Amigos como aqueles de quem nos fala o poeta: "para se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração".'
    Eu me arrepiei de verdade.Que delícia de palavras! Lembrou-me a Clarice Lispector.Amei.
    Palavras que tocam a alma.Parabéns.

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