Odiar ou Perdoar? Eis a questão!


A forma assustadora, galopante e avassaladora com que o mal se agiganta e se impregna entre nós, seres humanos, é uma questão tão sugestiva e complexa, que me pus a divagar sobre sua origem: quem o ensinou? Quem o alimentou? O tempo corria e eu sem conseguir responder nenhuma dessas indagações...
O certo é que essa disseminação passa pelas escolhas que fazemos. O ser humano é o ancoradouro, o abrigo, o lugar onde o mal se materializa (em palavras, ações, pensamentos, sentimentos e omissões), e a toda hora nos defrontamos com ele.
Mesmo não encontrando as respostas - o que seria uma presunção sem limites achar que as encontraria - continuei refletindo, até que imagens mal delineadas, vultos disformes começaram a mover-se num bailar estranho e frenético na minha mente, eram pessoas, muitas jovens, com rugas na alma, corações envelhecidos, rugas diferentes daquelas esculpidas pelo tempo. Mas, acima de tudo, eram figuras tristes, amarguradas, incompletas, eu só conseguia ver metade delas, provavelmente a porção ainda não carcomida pelo ódio.
Quando alguém nos magoa, dois sentimentos afloram: o ódio, o pai de todos os males, e o perdão. Então, qual caminho seguir? Como conduzir-nos diante de situação que põe em xeque nossos sentimentos e convicções mais íntimos, e que nos tiram do eixo, desestabilizando nosso equilíbrio emocional? À primeira vista e no calor dos acontecimentos, a primeira opção (o ódio) é a mais fácil e rápida para saciar nossos sentimentos mais brutos e guturais movidos pelo desejo de vingança, de ver no outro o mesmo olhar diante do medo, da decepção, da raiva, da mágoa, da indiferença que nos fizeram experimentar (olho por olho, dente por dente).
Só que o cataclismo moral gerado pelo ódio nos lança num emaranhado de teias que nos presenteiam com satisfações meramente temporárias e ilusórias. Enredar-nos por esse caminho é optar por uma rota tortuosa. O ódio é um sentimento penoso, principalmente para quem o sente, e difícil de ser administrado. Além de ser um veneno perigoso, de ação lenta, mas constante e duradoura, que ocupa espaço imenso na mente de quem escolhe odiar, deixa a pessoa cansada, enrugada, envelhecida, entristecida... (perfeita também a síntese de Shakespeare: "Odiar é como tomar veneno esperando que o outro que morra").
A experiência do perdão é igualmente dolorosa e lenta, exige da mesma forma um exercício mental constante até nos desvencilharmos daquele mesmo emaranhado de teias e enveredarmos, de corpo e alma, por um caminho de luz onde degraus são escalados lentamente, no ritmo exercitado por aqueles de espírito elevado, que conseguem vencer barreiras, superar vicissitudes, enfim, que conseguem compreender que perdoar é ganhar.
O caminho seria, então, semearmos nossas poções de amor, resgatarmos o que ficou pelo caminho, revermos tudo que foi dito, pensado, feito e omitido. A palavra chave é "mudança", mudança interior - porque só muda quem quer mudar, quem reconhece antes que há algo em si mesmo que precisa ser mudado -, feita pelo exercício da frase que encerra a maior das sabedorias: "conhece-te a ti mesmo". É uma viagem pelos escaninhos da alma, mas é possível!

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