QUANDO A MORTE NÃO É SUFICIENTE!


O fim da vida não exaure a existência, a história, as lembranças e o legado. Com a morte, a ideia de finitude se materializa, mas não é suficiente para apagar o passado, algumas vezes até o realça, acendendo luzes já meio apagadas.

Com a tardia morte de Osama Bin Laden, muitas reflexões vieram à tona, principalmente a relativa à adequação e eficácia da medida tomada (morte do terrorista). Os longos quase dez anos transcorridos desde o fatídico 11 de setembro até hoje não foram também suficientes (e nenhum tempo mensurável o será) para amainar a dor dos parentes, o medo frente à exposição da fragilidade humana (inclusive americana), a estupefação e indignação diante do mal em sua essência e da latente capacidade humana de se desumanizar.

Esses dez anos de caçada, mesmo que inglória, por um lado, fizeram com que a figura do terrorista perdesse força e expressão, sepultando-o em vida, situação que certamente lhe era bastante desconfortável, visto que, como ficou evidente, ele gostava da cena, das luzes da fama e não do ostracismo, tanto que, de quando em vez, fazia circular pelas redes de comunicação pronunciamentos, no afã de manter viva a sua própria existência. O que se deu, na realidade, foi o seu apagamento enquanto líder e pretenso mártir, ou seja, os EUA conseguiram acuá-lo, silenciá-lo, enterrá-lo vivo, mas só isso não bastava. Então, o que seria melhor, prendê-lo e condená-lo, como animal que era, e lhe dar a mácula perpétua da execração terrena e espiritual, ou matá-lo às escondidas e jogá-lo ao mar? Ambas as sentenças, diga-se, merecidas! Mas, será que a opção adotada foi a mais eficiente para os objetivos maiores de por um fim ao terrorismo?

O que os americanos não perceberam, ou não quiseram perceber, é que o tempo transformou Bin Laden em poeira. Ele já estava jazendo em cova rasa e talvez para ele, a morte, principalmente como se deu, fosse exatamente o que ele precisava para voltar à cena, para entrar na história e reacender o fogo dos que não mais o viam como líder e mártir, mas apenas como poeira, incitando o ódio característico dos extremistas que agora conseguiram um “motivo” para continuar essa história de maldade e intolerância. Será que a morte é (ou será) suficiente para colocá-lo no seu devido lugar na história (o dos monstros)? Resta-nos apenas esperar para que a decisão tenha sido a mais acertada e que a poeira não se levante com a força da tempestade.

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