USEMOS O SUS*
A realidade da saúde de nossa cidade é, sem dúvida, intrigante, inquietante e preocupante, não sou da área de saúde mas, como todo mortal, de vez em quando preciso de intervenção médica (enquanto ainda não preciso de intervenção divina) e nessas ocasiões é possível perceber algumas idiossincrasias inaceitáveis em uma atividade que lida com o nosso bem mais precioso - a vida.
Reluto bastante em ir a hospitais, mas, em um sábado à noite, depois de um dia de muitas dores, resolvi arriscar e fui a um hospital. Dei entrada na emergência (pronto atendimento, que nada!) e me juntei a outros tantos moribundo, possivelmente portadores de alguma virose (a resposta mágica para todos os males). Peguei um senha e depois de algum tempo recebi uma pulseirinha indicando o nível de gravidade do meu estado de saúde: VERDE: besteira, deve ser virose mesmo, pode esperar muito; AMARELA: pode não ser virose, mas também não deve ser algo tão sério, pode esperar também; VERMELHA: é bom o médico se apressar, parece que não é virose mesmo, deve ser algo sério, é melhor não esperar muito. E toda essa análise foi feita por um recepcionista, altamente qualificado para escanear nosso corpo com o olhar e identificar o mal de que padecemos rapidamente.
Como recebi a pulseirinha verde (graças a Deus!), fiquei horas esperando pelo "pronto atendimento" (que deveria ser modificado para demorado atendimento), e nesse ínterim, vi muitas coisas, mas, o que mais me chamou a atenção foi um homem que invadiu a recepção correndo com uma mulher desmaiada nos braços, gritando: é emergência! é emergência! Rompendo a barreira dos recepcionistas (escâneres) colocadores de pulseirinhas.
Daí, passei a refletir: o que é emergência? Como é possível alguém só com uma batida de olhos avaliar o estado de saúde de uma pessoa? Como pode ser tão precário o atendimento nos hospitais de nossa cidade? E pior, como é que nos submetemos a pagar por um tratamento tão degradante?
Eu não estava em nenhum hospital público não, estava no maior e "melhor" hospital particular da cidade, que atende praticamente 80% da população que pode pagar plano de saúde.
Se é para sermos tratados (pejorativamente falando) como usuários do SUS, então, usemos o SUS! E eu ainda consigo ver vantagens nisso (feitas as devidas ressalvas por estarmos nos referindo a hospitais públicos brasileiros): não pagar pelo péssimo atendimento; menores índicer de infecção hospitalar em alguns hospitais público comparativamente ao hospital particular em questão; não nos sentirmos mais idiotas por pagarmos por tal atendimento; se precisarmos assegurar judicialmente o fornecimento de algum remédio ou tratamento ou intervenção cirurgica, a probabilidade de êxito é grande (o Judiciário manda logo prender o secretário de saúde), diferentemente do desfecho de um embate jurídico com a poderosa instituição particular que, normalmente, se dá quando o paciente já morreu...
Particularmente, três médicos que frequento com certa regularidade (ginecologista, pediatra e hematologista) atendem em hospitais públicos, o que só me faz sentir mais idiota. Então, quebremos nossas carteirinhas e usemos o SUS! Não que o sistema público de saúde seja um modelo nos moldes franceses, longe disso. Mas, por que pagar caro para sermos mal atendidos? Talvez, em nossa sociedade paraibana pequeno-burguesa portar uma carteirinha seja indicativo de status social! Que absurso. Reitero meu pensamento: usemos o SUS! Quem sabe assim, com o grande afluxo de usuários consigamos operar uma transformação no sistema público de saúde: ou o sistema quebra de vez e é remontado do zero (sob outros parâmetros - melhores, espero) ou, em situação menos drástica, haja uma uma intervenção governamental no sentido de operar uma viragem qualitativa nos serviços prestados. Ilusão? Loucura? Pode ser. Usemos o SUS e vejamos o que acontece, na pior das hipóteses, refugiemo-nos na França!
Quanto a mim, depois de horas esperando na recepção, um enfermeiro com cara de carniceiro me atendeu, fez exame de sangue e me deu um potinho para fazer exame de urina, conduzindo-me a um banheiro sujo para que eu fizesse a coleta. Joguei o potinho no lixo e fui curtir minha virose em casa. Mas, pelo menos para uma coisa essa experiência me serviu: aprendi como romper a barreira dos recepcionistas escâneres colocadores de pulseirinhas e ter um pronto atendimento, bom eu já não sei!!!!
* Este texto foi postado anteriormente por mim no blog ospolemicos.com
Chris, esqueceu de dizer que quando precisamos marcar alguma consulta medica tem que ser com aprox 20 dias de antecedencia.Se for grave...problema nosso!!
ResponderExcluirSem falar que esses mesmos planos de saude pagam uma verdadeira miséria ao medico conveniado,rs.