A voz feminina no Medievo: Christine de Pizan


Em meio ao ambiente misógino que marcava a Idade Média, uma voz feminina surgiu contundente, relatando o cotidiano das mulheres medievais e trazendo à tona questões incipientes que passariam a compor a luta das mulheres nos dias de hoje, como, por exemplo, a igualdade de gênero.
Na época em que as mulheres eram uma minoria silenciosa, quando não silenciada, o simples fato de ter educação, erudição e mais ainda, ser reconhecida e lida por homens e mulheres na Baixa Idade Média, representou um feito notável e digno de admiração.
Italiana de nascimento e francesa por adoção, Chritine de Pizan (1364-1430) nos legou obras que falam sobre mulheres a partir do olhar feminino, apartando-se da literatura até então eminentemente masculina e que falava das mulheres sob a perspectiva dos dominadores, propiciando o estabelecimento de duas versões sobre a mesma história: a real e a inventada ou suposta.
A leitura das principais obras de Christine (Cité des dames e Trois vertus) nos fornece a vizualização e compreensão do universo feminino a partir da sua autopercepção enquanto mulher, da sua visão de mundo e dos seus desejos.
Christine escreve especialmente para as mulheres, concebendo-as como possuidoras de conhecimento e intelecto, em resposta à produção literária de origem masculina, que trazia em seu núcleo a concepção da mulher como devassa, perigosa e astucisa, ou, em extremo oposto, como virginal, submissa e desprovida de inteligência, estabelecendo dois modelos possíveis de mulher, com uma nota em comum, a inferioridade frente aos homens.
A vida e obra de Christine, antes de tudo, representam um ponto de resistência feminina dentro da História das mulheres e marco prenunciador da luta das mulheres por reconhecimento e gozo de direitos igualitários enquanto seres humanos.

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