VISÃO DA TRAGÉDIA II - AS MÃES




Saindo da óbita dos porquês, um outro lado da tragédia ocorrida no Rio de Janeiro merece reflexão: o coração das mães que perderam seus filho(a)s.

Sinto-me autorizada a falar porque faço parte, com muito orgulho, desse grupo de seres humanos diferenciados: as mães. E mesmo que infinitamente distante de compreender a dor de tal perda e do abismo silencioso e escuro em que tais mães se encontram, como mãe, atrevo-me a imaginar tal sensação.

Ao nos tornarmos mães, deixamos de viver um pouco a nossa vida e passamos a viver a vida dos nossos filhos, tudo o que era único, agora é múltiplo, o tempo antes só nosso, agora nosso é muito pouco. As mães têm o incrível poder de viver várias vidas ao mesmo tempo, de resolver vários problemas ao mesmo tempo, de dar banho em vários filhos aos mesmo tempo, de dar comida a muitos filhos ao mesmo tempo, de brincar de chá de bonecas aqui e logo ali entrar na sala e se transformar num pirata com espada em punho... Por isso que digo que as mães são seres humanos diferenciados; que me perdoem os pais, não sou pai para saber de seus sentimentos, então, só falo do que sei.

Como hoje as mães não são mais só mães, precisam se dividir entre várias funções, também importantes, ficam a padecer daquela famosa culpa! A culpa por não ter feito a tarefinha, culpa por não ter dinheiro para dar ao filho para ir ao cinema, culpa por ter que repreendê-lo, culpa por não tê-lo acompanhado naquela festinha, culpa por ter dormido ao colocá-lo para dormir, culpa por tê-lo deixado ir à escola naquele dia...

A vida tem uma ordem natural, e dos elementos que compõem essa ordem natural, o mais sagrado é o que se refere à sequência da morte por faixa etária (primeiro se vão os mais velhos). As mães não foram preparadas para ver seus filhos indo embora antes delas, as mães não foram feitas para enterrar seus filhos, isso não é natural! Mas não é nossa culpa! Mães, pelo menos não se culpem tanto, somos apenas mães, não somos Deus! A vida não nos pertence.

Não há consolo para essa dor, não há luz para essa escuridão, não há palavras que rompam esse silêncio, não há volta para esse pedaço que foi arrancado. Tudo agora será mais pesado, mais lento, menos colorido e alegre, mas, mesmo assim, mesmo contra a vontade, a vida vai continuar e precisa continuar,  pelos filhos que ficaram, pelos netos, pelos pais, pelos irmãos, pelo marido, pelos amigos, afinal, as mães são seres humanos diferenciados. Amém!




Comentários

  1. Ah christiane, concordo com tudo que foi dito.
    Acredito que todas as mães estão de luto por conta dessa tragédia. Não foi meu filho, mas poderia ter sido!!!
    Quando vi a reportagem fiquei chocada e me vi chorando. Meu filho não estudava naquela escola, eu não conhecia nenhuma das vítimas, mas me senti ligada de alguma forma áquela tragédia.
    Como mãe, tentei me colocar no lugar de cada mae que perdeu seu filho/a. Que dor terrivel !
    Deus tenha misericórdia dessas familias.

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